quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

VIDA DE MILICO

Vida de Caserna


Algacyr Costa


gentileza de Rogerio Antonio Teixeira






Foi lá por sessenta e três


Lembrarei pra sempre irmão,


Eu "bem louco pra servir"


Ser pracinha da nação


Aí seria mais homem


No pensamento de então.






Lá no "primeiro do vinte"


Cheguei de manhã bem cedo


Era em casa Passo Fundo


Hoje conto sem segredo


Fui chegando pro portão


Num alvoroço sem medo


Lá dentro se era escolhido


Quase que a ponta de dedo






Lindo toque da alvorada


O clarim me despertava


Depois de arrumar a camita


Para o rancho nós rumava.


Entrava em forma e na fila


Porque a ordem decretava


Cada um com seu copito


O desjejum preparava.






Nós chegamos de "a paisano"


Fica uns dias desse jeito


"Levamo" a primeira "tosa"


Todo mundo satisfeito


Fiquei com a "pinha" alumiando


Num cadete bem mal feito


Pois cabeça de milico


No quartel não impõe respeito.






Foi como um grande rodeio


Veio logo a apartação


Fui o "cento e trinta e três"


Do terceiro pelotão


E vieram me perguntando


Qual ofício ou profissão,


Burocrata ou diplomado


Ia logo pra seção.






Logo "aprendemo" a entrar em forma


Para a primeira instrução


De sentido e descansar


A segurar o mosquetão


A marchar enfileirado


Pelo pátio do esquadrão


Aquilo mais alinhado


Do que teta de leitão






Bem logo veio a faxina


Que nos mandou o capitão


Pra tirar grama das pedras


Com ferros de rasquiação


Uns "pintava" outros "lavava"


E todos tinham função


Na hora que tocou o rancho


Alegrou meu coração.






Vai uns "mês" pra "passar a pronto"


Sempre à baixo de instrução:


Desmonta metralhadora


Mexe em sabre e mosquetão


Tira serviço na guarda


-Cavalariça ou plantão


Nunca se dorme na hora


Nem fica sem munição






O índio que vem de fora


No quartel sempre se acerta


Sabe andar bem de a cavalo


De madrugada desperta


Tira serviço pros outros


Quando nos cobres se aperta


E se vai pra algum bochincho


Ninguém faz a descoberta






Já o rapaz da cidade


Dizem de papai é filho


É macio no caminhar


No olhar tem outro brilho


Sofre muito na instrução


Na marcha até perde o trilho


Anda pulando na cela


Pede socorro o lombilho






Boa vida tem compadre


No quartel o cassineiro


Não come o resto que sobra


Porque já comeu primeiro


Fica boleado de gordo


Que nem cusco de açougueiro


E coitado do milico


Que encrencar com o rancheiro






Tem cristão que acha bom


Lá é tudo padronizado


Desde o soldo até o arreio


Toda a roupa do soldado


Não tem rico não tem pobre


Fica tudo misturado


E o que é guapo vive bem


Encontra-se respeitado






Pra ser bom de ser soldado


É nunca se envaretar


Ser malandro e debochado


É melhor do que embrabar


"Levar tudo na esportiva"


É o jeito de driblar


Pois perde quem sai ganhando


Na hora que a parte entrar






É bom saber que lá dentro


O tratamento é sortido


Tem os bons, os mais ou menos


Os brabos, os provalecidos


Que se aproveitam do cargo


Para ser obedecido


Se o quera for retovado


Fica preso ou é detido.






Recordo o meu comandante


Dos sermões que ele pregava


Conselhos que não esqueço


Que todo mundo escutava


Falava as "vez" uma hora


E a gente só respirava


E qum não tinha preparo


No solaço desmaiava.






No esporte fui campeão


Pela seção de comando


Com o Osvaldo e o Dalpiva


O julio no meio armando


O pelé jogava sério


E o padeiro "mutreteando"


E eu petiço de arqueiro


A goleira ia fechando






Ganha bem pouco o milico


O soldo sai descontado


Paga o pito a roupa a folga


Vai pra algum baile enfeitado


Se encostar nalgum carinho


De a muito necessitado


Quando vem no outro dia


Os "pila" encurtou um bocado






Todo dia tem revista


E de tarde boletim


Todo mundo interessado


Escuta tim por tim tim


Pra ver se cai de serviço


Se escapar que bom pra mim


Quarta parte dá cadeia


Expulsão ou coisa assim






Foi em abril a prontidão


De uma "canha" precisava


E prenderam no portão


O goularte que levava


Três dias dobrei serviço


No alojamento cantava


Lembrando da namorada


Que lá fora me esperava






Fui soldado caprichoso


A mãe a farda engomava


Meus coturnos engraxados


A calça verde frisada


No bater uma continência


Até o boné se orgulhava


De ver um praça garboso


Que civismo transbordava!






Mas chegou o dito dia


Do tal de "pronto passar"


Todo o esquadrão em forma


Em frente dele marchar


No juramento sagrado


Uma vida pra lembrar


Ela hasteada soberana


Minha bandeira jurar






Ontem, hoje, juro sempre


Quando te ver tremular


Ou ao escutar nosso hino


A emoção me encilhar


Uma lágrima crioula


Em minha face rolar


É o patriotismo farrapo


Que está no sangue a pulsar.






Ponho minha mão no peito


Em cima do coração


Vejo no verde pampeano


Os campos do meu rincão


No amarelo, vejo ouro


No azul o céu deste chão


No branco paz e progresso


Simbolismo da nação.

















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