quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

coisas do sul.

Reza Chucra


Alcy Cheuiche


gentileza de Marcio Leão da Silva


extraído do livro Versos do Extremo Sul






Perdoe Virgem Maria


Por lhe tomar atenção,


Envolvendo um coração


Tão puro e tão adorado,


Nesta miséria qu'eu trago,


Que arrasto, é melhor que diga,


Por esta terra inimiga,


Onde nunca fui amado.






A Senhora bem se lembra


Que nem sempre foi assim...






Embora não fosse em mim


Que a fortuna tinha ninho,


Eu bem que tive carinho


E uma mulher cuidadosa


Que me deixava de jeito,


Um lenço branco no peito,


A bombacha bem limpinha,


Quando para a igreja eu vinha,


No tempo qu'eu fui feliz.






Agora olhe pra mim.


Veja esta roupa rasgada


Qu'eu carrego com vergonha.


Parece que a gente sonha,


Quando vê que não é nada


Prá dominar o seu vício


Quando eu morava no pago


As vezes tomava um trago


No mais prá molhá a garganta


E agora querida Santa,


Até virei cachaceiro,


Depois que bebo o primeiro


Não há nada que me pare.


E depois até que eu sare


Vem me subindo a cabeça


Toda essa vida passada


E o rosto da minha amada


Enxergo assim como em sonho...






Ó minha Nossa Senhora,


Escute ao menos agora


Um pedido que le faço.






Sei que a morte já me ronda


Pela porteira do rancho...


Até já vejo os caranchos


Rodeando em volta de mim.






Reconheço o meu pecado,


E quando tiver chegado


Lá na fronteira do céu


Vão me apontar outro rumo:


- Ovelha com mancha preta


Bota a marca na paleta


Que só serve prá o consumo. -






Prá mim não há mais remédio,


Não é prá mim o pedido.


Sou índio chucro vencido


Pelo vício aqui do povo.






Eu peço é pelo meu filho,


Que abandonei lá no pago


Quando a sina de índio vago


Me arrebatou da querência.






Proteja a sua inocência...


Não deixe que o coitadinho


Siga este duro caminho


Que está seguindo seu pai.






Que fique por toda a vida


Grudado naquele chão,


Que resista a tentação


Com toda a força de machd,

Que não morra como guacho

Quando pará o coração.














..

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